Pronto, mais uma vez a mais que frustrada LS falha o alvo amoroso, i.e., dá o tiro ao lado, kaput, balde de água fria, gélida, capaz de provocar hipotermia, etc., etc., etc. mais uma vez o fado imutável e cruel a atirou para a paixão impossible, o velho amor platónico idiota, a hipótese zero de procurar um pouco de enfadonha, quotidiana e mais que muito desejada vida amorosa normal, i.e., com alguém fisicamente ao lado. Será que LS ainda não percebeu que está condenada a uma vida solteirona e libresca, onde a suas únicas companhias masculinas que lhe proporcionem um pouco de mimo serão sempre não humanas e com quatro patas, onde passará os serões na sua casa terrivelmente vazia a enfardar chocolates no seu mega sofá, enquanto vê o people and arts e lê um qualquer livro em inglês sobre as perversões sexuais de uma qualquer personagem histórica? LS tem de se conformar com o que o destino faz questão de mostrar a cada novo momento que será o seu futuro ad eternum, infinitum e mais além. Ela já devia ter tomado consciência que, vá para onde vá, goste de quem gostar, aquele que mais quer não será seu e aquele que mais odeia irá fazer questão de a perseguir de uma maneira obsessiva. Que mal fez ela para merecer isto, além de ter nascido sem consentimento e por acidente, destruindo vidas enquanto descia o canal de parto, acabado com futuros promissores enquanto aprendia a andar e falar, e bem que se podia ter dispensado esta última aprendizagem. Afinal, LS nada mais é do que uma dramaturga falhada, uma actriz frustrada, uma amiga da onça, uma filha inconsciente e louca, enfim, LS resigna-se a ser considerada uma obra de arte da natureza, mas faz questão de frisar que é arte completamente má, incompleta e anónima (quase). Porque isto de ser LS já satura um bocado. Sempre à espera que o futuro venha, não consegue aguentar a ânsia para que esse futuro se torne num passado. E mesmo carpendo (ou carpindo?) os diem, haverá sempre uma força superior que congrega todas as forças do universo para que os seus modestos desígnios diários, nem que sejam apenas comer um bom crispante, sejam terrivelmente falhados, e sempre de longe. No fundo, no fundo, o que LS não quer confessar é que, por trás de tanta emancipação, procura da diferença e desejo de superação, algo no fundo de si não deixa de suspirar por uma vida medíocre vivida em função de um horrível marido sem sombra de sentimentos, onde o momento alto do seu dia seria quando ele lhe desse um beijo de boa noite a tresandar a cerveja de má qualidade e cigarros baratos. Isto de ter sistema reprodutivo interno afecta o cérebro de uma pessoa. Quando LS quer pensar em coisas como a situação política mundial, as novas tecnologias ou algum romance de Kafka, é distraída por qualquer ser de ombros largos e nádegas firmes que passe perto, e dá por si a pensar, "que bom pai daria para os meus filhos"! LS está a considerar, neste momento, em, à semelhança dos gatos machos, que são capados para se tornarem dóceis, em se submeter a uma operação de remoção do seu sistema reprodutivo, para se poder dedicar de uma forma mais fiel aos assuntos que realmente interessam, e sobre os quais nunca irá descobrir que, afinal, têm já uma mulher no seu mundo pessoal e íntimo. Assim como assim, LS nunca iria utilizar as suas capacidades reprodutivas. O estudo, sim, é o mundo de LS; por muito má que ela se possa tornar nesta área, sempre haverá a consolação de, um dia, já ter sido boa nisso. Pensando bem, isso não é grande consolação para LS. Melhor seria continuar com o seu nível. Mais a mais, LS não tem mais nada com que se entreter, pois não? Ah, l'amour, l'amour... LS deveria ter-se dedicado um pouco à ciência, apenas o suficiente para arranjar um antibiótico para tal flagelo humano. E LS faz questão de concordar com os teólogos de Borges, que dizem: os espelhos e a cópula são abomináveis, porque aumentam o número de homens. Claro que os espelhos são piores, porque além de multiplicarem fazem questão, todos os dias, de lembrar a LS as suas terríveis e grotescamente reais imperfeições físicas. e isso nem com o inferno se paga. Embora LS adorasse enviar o seu reflexo a enfrentar o mundo de vez em quando, diga-se de passagem. Mas, mais que isso, gostaria que, pelo menos um dia, ou uma hora que fosse, entrasse nesse mundo do espelho, onde tudo, embora reflexo, é contrário, e experimentar o estranho fenómeno descrito em tanta literatura, em tanta música, em tantos filmes, esse acontecimento mais raro que uma chuva de meteoritos, mais difícil que um eclipse total no hemisfério norte, mais espantoso que converter ferro em ouro adicionando apenas umas gotas de água salgada: amar e ser amada.
14-01-2005 D.C. 2:48
1 comentário:
enfim...é jovem e tal
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