terça-feira, janeiro 24, 2006

Mais poesia inédita... isto tem sido cá uma produção...

Manhã de insónias

mantém o arco dos lábios ascendente!
o que Lhe ouviste ainda agora dizer
pode ter-Te afogado o coração, estilhaçado
a alma, tornado moribunda a esperança
mas nada interessa enquanto estás
na esfera pública, ao lado Dele
[e demais pessoas felizes porque
não são Tu], e tens de ser fria,
e sorrir com a cumplicidade de quem
tem alguém à espera em casa,
por quem abdicaria dos sonhos de uma
vida por um só abraço, e confessa,
é tão mais fácil fingir que não gostas
Dele quando está à Tua frente, de repente
torna-Se igual a todos e deixa
de Se escrever com ‘e’ maiúsculo
com um bocado de cinismo até consegues
falar do Teu pequeno flirt de
fim-de-semana - só para Te armares
em alguém que não se importa com o
que acabou de ouvir, alguém que até
está feliz por Ele, numa de paz e
amor para todos e Eu não é preciso
e, vejamos pelo lado bom, tens a
certeza de que Ele não sabe de nada
que rachas por dentro quando O ouves
falar da que ama, d’Ela [sim, porque
Tu é que és a Outra, A que chegou
tarde e a más horas, pontualidade
britânica só para as coisas más
da vida] mas entretanto
não Te esqueças: arco dos lábios
ascendente! não deixes que a emoção
Te traia e Te mostre verdadeira
aos olhos Dele, porque, vendo bem,
Ele não o merece, nem Ela,
que pelos vistos consegue pôr
o arco dos lábios Dele descendente
quando Ele, a sós consigo, numa
manhã de insónias, a escrever
poesia, pensa: ora bolas,
Ninguém gosta de mim.

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