terça-feira, janeiro 24, 2006

Se

Se és capaz de manter o sangue-frio
enquanto outros à tua volta o estão perdendo
e deitando-se as culpas;
Se és capaz de fiar-te em ti próprio
quando todos duvidam de ti
- e no entanto perdoares que duvidem;
Se és capaz de esperar sem cansar a esperança,
e de não caluniar os que te caluniam,
e de não pagar ódio por ódio
- tudo isto sem dar-te ares de modelo dos bons;
Se és capaz de sonhar
sem que o sonho te domine
e de pensar, sem reduzir o pensamento a vício;
Se és capaz de afrontar o Triunfo e o Desastre
sem fazer dstinção entre estes dois impostores;
Se és capaz de sofrer que o ideal que sonhaste
o transformem canalhas em ratoeiras de tolos;
ou de ver destruído o ideal da vida inteira
e construí-lo outra vez com ferramentas gastas;
Se és capaz de fazer do que tens um montinho
e de tudo arriscar numa carta ou num dado,
e perder, e começar de novo o teu caminho,
sem que te oiça um suspiro quem seguir a teu lado;
Se és capaz de apelar para músculo e nervo
e fazê-los servir, se já quase não servem
aguentando-se assim quando nada em ti resta,
a não ser a Vontade, que te diz: aguenta!
Se és capaz de aproximar-te do povo e ficar digno,
ou de passear com reis conservando-te humilde;
Se não pode abalar-te o amigo ou inimigo;
se todos contam contigo e não erram as contas;
se és capaz de preencher o minuto que foge
com sessenta segundos de tarefa acertada;
Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,
será teu tudo o que nela existe,
e não receies que to tomem…
Mas (ainda melhor que tudo isto)
se assim fores, serás um homem!

Rudyard Kipling

Mais poesia inédita... isto tem sido cá uma produção...

Manhã de insónias

mantém o arco dos lábios ascendente!
o que Lhe ouviste ainda agora dizer
pode ter-Te afogado o coração, estilhaçado
a alma, tornado moribunda a esperança
mas nada interessa enquanto estás
na esfera pública, ao lado Dele
[e demais pessoas felizes porque
não são Tu], e tens de ser fria,
e sorrir com a cumplicidade de quem
tem alguém à espera em casa,
por quem abdicaria dos sonhos de uma
vida por um só abraço, e confessa,
é tão mais fácil fingir que não gostas
Dele quando está à Tua frente, de repente
torna-Se igual a todos e deixa
de Se escrever com ‘e’ maiúsculo
com um bocado de cinismo até consegues
falar do Teu pequeno flirt de
fim-de-semana - só para Te armares
em alguém que não se importa com o
que acabou de ouvir, alguém que até
está feliz por Ele, numa de paz e
amor para todos e Eu não é preciso
e, vejamos pelo lado bom, tens a
certeza de que Ele não sabe de nada
que rachas por dentro quando O ouves
falar da que ama, d’Ela [sim, porque
Tu é que és a Outra, A que chegou
tarde e a más horas, pontualidade
britânica só para as coisas más
da vida] mas entretanto
não Te esqueças: arco dos lábios
ascendente! não deixes que a emoção
Te traia e Te mostre verdadeira
aos olhos Dele, porque, vendo bem,
Ele não o merece, nem Ela,
que pelos vistos consegue pôr
o arco dos lábios Dele descendente
quando Ele, a sós consigo, numa
manhã de insónias, a escrever
poesia, pensa: ora bolas,
Ninguém gosta de mim.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Performance no Ateneu - 22h

Quem quiser por lá passar, be my guest. Além da importante personagem artística - eu -, têm lá Neiva, o Manel Pereira, o Micas, e, a mais importante personalidade de todas, o Portugal II. Mal posso esperar pra ver que raio vai ele fazer. A expectativa quase compensa o eu ir faltar ao meu adorado, fofinho e moreno... quero, dizer, à minha responsabilidade do ensaio da banda. Quase.
(ooh, the things I do for art...)

Filipe o Bom, Kel, Filipe!

Noite nas Al Pendurates. Lady Sara C a passar filme de Lisboa pró seu portátil. Kel embrenhada na delicada crítica de 'Crónicas de Nárnia'
Lady S - Kel, mas todas as tuas filmagens têm de ter um momento em que fazes zoom no traseiro do *****?
Kel - Pois, que queres que eu faça? O cu dele persegue-o!

Jonathan Swift - Cassino e Pedro: Elegia Trágica

Dois jovens cantabrígios estudantes,
Refinados os dois, ambos amantes,
Conversando como era seu costume
De livros muitos e amoroso lume -
(Dá-me palavras, Musa, com que diga
De Pedro e de Cassino a bela intriga)
Pois Pedro foi-se a visitar Cassino
Para palrar e p’ra beber do fino.
E que visão descobre esse rapaz?
Que envolto em tédio o seu amigo jaz.
Dir-se-ia que se havia levantado:
Em torno à fronte um sujo peúgo atado,
Sentado ele estava entregue a pontear
Com linhas de cor vária o outro par.
Os calções rotos deixam ver apenas
A fralda em tiras, partes mais morenas.
Barba já velha, e a perna se exibia
Negra de pêlos e de porcaria.
Os ombros num tapete ele embrulhava:
Para dormir camisa não usava.
E junto aos pés tinha o penico a ponto
De um vómito, de um cuspo, um mijo pronto.
O seu velho cachimbo estava ali,
Semi-fumado ainda, ao pé de si.
E Pedro o viu assim nestes preparos,
Postos em fumo e choro os olhos claros.
Restos de grogue ainda se esquentavam
Nas brasas do fogão, que se apagavam.
‘Ó Cassy, porque abanas o toutiço?
Porque inda estás na cama, que foi isso?
Que o pintassilgo, o pintarroxo, e o tordo
Matinas cantam de comum acordo,
E muitas vezes eu te vi saudando
A Aurora, em tua Flauta bem soprando.
Humores melancólicos me escondes?
O quê? Nem uma palavra me respondes?’
E foi-lhe dando um par de safanões,
Remédio estudantil p’rás depressões.
O pastor amoroso, de dor mesto,
Célia! Gritou três vezes, não o resto.
‘Cassy, meu caro, temo da pergunta
Que me cumpre fazer: Célia é defunta?’’
“Que o mal fora só esse, oh quem me dera!
Mas minha estrela é mais maldita e fera!”
“Confessa cá: tua Célia deu em puta?”
“Ser-me-ia doce em troca de tal cicuta!”
“Que a Célia arranque a peste as tranças de ouro!
Bexigas, morbo gálico, ao seu couro
Estão a comer? Ficou já sem nariz?
Isso é vulgar. Podes viver feliz.”
“Oh, Pedro, breve tinta é uma beleza
Que Tempo e Acaso pelam indefesa!
Mas Célia destruiu aquele encanto
Que a tudo sobrevive porque é santo.
Ninguém será capaz de imaginar,
Nem há divino tom do bem falar
Que possa descrever como essa ingrata
Meu puro amor traiu, como me mata.
Que ela inventou uma flecha envenenada
Para sempre em meu seio recravada”.
“Com o rapaz do barbeiro te enganava.
Isso eu sabia. Manda-a, pois, à fava.”
“Ó Pedro, toda a Ninfa tem direito
De escolher livre a quem descobre o peito.
Razão não tenho de queixar-me dsso,
Se outro pastor prefere ao seu serviço.
Mas isso que ela fez, oh que canseira:
Um crime é contra a humanidade inteira!
Que o sol se esconda para nunca ver
O que mulheres jamais podem fazer!
Conselho não terás bastante forte…
Deixa-me entregue ao desespero e à morte.
Arcádicos amigos, todavia,
Queimai-me com um soneto ou uma elegia,
E este epitáfio me graveis na lousa,
Contra que o Tempo seu poder não ousa:
Aqui Cassino jaz, Célia o matou,
Que nunca disse a Dor que o liquidou.
Adeus, ó mundo vão!… Oh… que já escuto
O ladrar triplo de Cerebero bruto!
E vejo Alecto que me espera… Oh não…
Chicote de escorpiões em sua mão…
E já Caronte em sua barca velha
Me faz sinal que embarque para a grelha…
Aí vou, aí vou… Eis a Medusa… Enfim…
Como as serpentes chiam contra mim!
O infernal fogo me liberta e frita!
Fora daqui… Eu não falei… Quem grita?”
“Precisas de purgante e de sangria,
Ou perdes o juízo em tal porfia.
A causa porém peço que me digas,
Pelas leis da amizade, as mais antigas,
Que Célia fez terás de me contar,
Estou pronto a teu destino partilhar”.
“Como dizer?… Meu coração se parte…
Mas tal amigo pede com tal arte…
Em que torturas sofro, Pedro, pensa…
Meus olhos viram essa falta imensa…
Chega-te mas, que eu fale ao teu ouvido,
E, quando a pó me vejas reduzido,
Nem mesmo então tu digas meu segredo
Sequer à Ninfa que amas… Tenho medo
Que essa alma virginal trema de horror
Do que mulher não sabe em seu candor!
E às canas murmurantes tu não contes
O crime mas medonho destes montes.
Nem vás dizê-lo às rochas solitárias,
Onde o Eco escuta em gargalhadas várias.
Nem deixes Zéfiro que te ouça e leve
Por Cantabrígia quanto não se escreve.
Nem às aves de pena tu relates
De Célia os pavorosos disparates.
Se me traíres, eu, espectro inconsolado,
Estarei todas as noites a teu lado.
Ouso porém ter confiança em ti.
Adeus, amigo meu… Escuta: eu vi.
Causa é de sobra que a Razão me apaga:
Oh… Célia… Célia… Célia… Célia… caga”.

(tradução de Jorge de Sena)

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Petição 'Queremos um Ministério da Cultura Capaz'

Momento sério: se estão minimamente preocupados com o estado da cultura em Portugal (e, se não estão, por onde têm andado nos últimos 900 anos?), vão a este site e assinem a famosa petição dirigida ao Excelso Primeiro Ministro Eng. José Sócrates, que ja conta com a assinatura de várias figuras do mundo artístico português e projectos disso, como esta vossa anfitriã.
Não se calem!

http://www.PetitionOnline.com/minist/

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Poesia inédita das férias, que reencontrei há pouco

A melancolia infiltra-se nas paredes
Água lacrimae rerum do miocárdio
Deixa-te estar, ansiedade, desespera
mais um pouco por aquilo que nem
sequer queres.
Se as respostas levam a novas perguntas
porque continuam as questões? ponto
de interrogação a armar-se em inquiritivo
inquisidor rebeldia ao dogma p'ra quê se
o tédio continua.
28-VIII-'05
Não quero saber de belezas
Nem de habilidades ou grandes feitos
O que gosto em ti, ah, meu amor,
São os teus pequenos defeitos.
28-VIII-'05

Tim Burton a Presidente


Eu adoro este homem! Ocupa, neste momento, o top 10 dos Únicos Homens da Minha Vida. (um dia hei-de publicar essa lista, prometo.
Vá lá, vão ver A Noiva Cadáver. E aproveitem e vejam o resto dos filmes dele.
É nele que vou votar no dia 22. Façam como eu!
(a belíssima imagem que está aqui ao lado pertence à curta Vincent, um dos primeiros trabalhos de Burton, em stop-motion e talvez, de momento, logo após as VDL shorts, a minha curta preferida ;)

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Finalmente, as fotos da ópera!


Já tenho as fotos da ópera, mes amis! Infelizmente, esta é das poucas que não tem ninguém, por isso, para evitar 'tira a minha cara do teu site!!!' posteriores, espero que se contentem com isto. Se não, olhem, dêem-me um cd e eu gravo-vos as porcas. ;)

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Então Pituxa, como é que foi no S. Carlos?

Lamento informar os meus três leitores que ainda não tive acesso ao filme e fotos da ida a Lisboa para ver 'Die Entfhürung aus dem Serail' do Wolfgang, por isso ainda não disse nada. Mas podem ter a certeza que, para variar, os momentos mais interessantes escaparam quer à lente da kel ker à objectiva digital da heloísa (é pró site, é pró site!). E ainda bem. Assim ficarão esquecidos para todo o sempre. E ninguém poderá provar nada contra mim. Ah ah.
Mas, para vos ir aguçando o apetite, deixo algumas palavras ao calhas:
ah garanhão - ana souza dias - tosta mista - nietzsche - piano - camarote presidencial - pedro abrunhosa - ópera gore - e chega. ;)
até próximas notícias, mes amis!!!

Reflexão sobre a validade de Shakespeare na era das novas tecnologias...



Estive a ver o 'Romeu e Julieta' de Zeffirelli e dei por mim a pensar: isto não teria acontecido assim hoje! Sim, eu sei, a versão do Luhrmann, gosto muito dela, tá bem, mas sigam o meu raciocínio de velocidade estonteante:
- Toda a tragédia poderia ter sido evitada com um simples sms!!!! (ou e-mail, ou mms, ou seja lá o que for que inventarem prá semana)
Pensem nisto. E depois venham queixar-se de que o progresso é mau.
Adieu mes amis
(aviso: este post foi feito num notebook topo de gama que foi a prenda de natal da vossa anfitriã. ;)