Que bela noite ordinária que eu passei!
Foi isso há tempos
num quarto defendido pelas pulgas
e vigiado por um vento carteirista
que morava (disseste)
mesmo ali ao pé.
O problema da luz foi o primeiro
(que resolvemos apagando-a)
depois o das torneiras
depois o do marinheiro
que queria entrar nos nossos problemas
depois o teu
o teu problema já na cama
- na cama com mais paciência que encontrei!
Depois
falaste com as torneiras
e eu gritei.
Gritei por calculado amor
por brilhantina
por miséria
gritei até pela vitória
(supremo humor!)
dos que se batem contra a Cara-Alegre
gritei p’ra não parar de gritar
gritei «Chapultepec!» e «Oaxaca!»
(nomes por excelência afrodisíacos)
gritei até descobrir
o sítio em que te «escondias»
e então deixei-te gritar…
Quando a noite resignada
abria a última pálpebra
gritei ainda: «Mas é isto o espelho!»
E o dia levantou-se como um cão
(imagem acessível à família…)
da bela noite ordinária
que passei…
Alexandre O'Neill
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