terça-feira, setembro 19, 2006

Umas palavras de Woody Allen, aquele grande senhor americano que faz filmes europeus e toca 'cwarinete'

A média voz… mas muito média (in Sem Penas, Prosa Completa)

Pergunte-se ao homem comum quem escreveu as obras intituladas Hamlet, Romeu e Julieta e Otelo, e na maioria dos casos responderá, com confiança total: “O bardo imortal de Stratford upon Avon”. Pergunte-se quem foi o autor dos sonetos shakespearianos e logo se verá que a resposta ilógica é a mesma. Se estas mesmas perguntas forem feitas a certos detectives literários que parecem florescer periodicamente através dos anos, ninguém se deve surpreender se as respostas forem Sir Francis Bacon, Bem Jonson, rainha Isabel ou mesmo a Lei do Solo.

A mais recente de todas estas teorias aparece num livro que acabei de ler e onde se procura demonstrar definitivamente que o verdadeiro autor das obras de Shakespeare foi Christopher Marlowe. O livro expõe de forma muito convincente esta tese, e quando acabei de ler já não tinha a certeza se Shakespeare era Marlowe, ou Marlowe Shakespeare, ou o que quer que fosse. Uma coisa sei: nunca aceitei cheques de qualquer um deles e por isso gosto das obras que escreveram.

Ora, ao tentar considerar a teoria acima referida na sua justa perspectiva, a minha primeira pergunta é: se Marlowe escreveu as obras de Shakespeare, quem escreveu as de Marlowe? A resposta a esta questão encontra-se no facto de Shakespeare ser casado com uma mulher chamada Anne Hathaway. Isto sabemos nós ao certo. Contudo, segundo a nova teoria, foi Marlowe quem realmente esteve casado com Anne Hathaway, união que provocou em Shakespeare um pesar sem limites, uma vez que eles nunca o deixaram entrar em casa.

Um dia funesto: numa disputa mesquinha sobre quem era o último na bicha para a padaria, Marlowe foi morto… morto ou aberto a meio, disfarçado, para evitar que o acusassem de heresia, crime muito grave e punível com a morte, ou ser aberto a meio, ou ambas as coisas.

Foi então que a jovem mulher de Marlowe agarrou na pena e continuou a escrever as obras e sonetos que todos conhecemos hoje. Mas peço que me seja permitido fazer um esclarecimento.

Todos sabemos que Shakespeare (Marlowe) retirava os seus argumentos dos antigos (modernos); contudo, quando chegou a altura de os devolver, os argumentos estavam tão gastos que se viu forçado a sair do país sob o suposto nome de William Bardo (donde o termo “bardo imortal”) para escapar à prisão por dívidas (donde o termo “prisão por dívidas”). É aqui que Sir Francis Bacon entra em cena. Bacon foi, na sua época, um inovador, porque levou à prática certos conceitos avançados de congelação. Conta a lenda que morreu quando tentava congelar uma galinha. Aparentemente a galinha empurrou primeiro. Esforçando-se por esconder Marlowe a Shakespeare, se se demonstrasse serem a mesma pessoa, Bacon adoptou o nome fictício de Alexander Pope, que na realidade era o Pope Alexander, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, actualmente no exílio por causa da invasão da Rússia pelos Bardos, uma das últimas tribos nómadas (os Bardos estão na origem do termo “bardo imortal”), e que alguns anos antes tinha escapado a cavalo para Londres, onde Raleigh esperava a morte na torre.

O mistério aprofunda-se, pois, segundo reza a história, Bem Jonson encenou um funeral falso para Marlowe, tendo convencido um poeta menor a ocupar o lugar daquele no enterro. Não se deve confundir Bem Jonson com Samuel Jonhson. Era Samuel Johnson. Samuel Johnson não era. Samuel Johnson era Samuel Pepys. Pepys era na realidade Raleigh, que tinha fugido da torre para poder escrever O Paraíso Perdido sob o nome de Jonh Milton, um poeta que por ser cego se havia livrado da torre e que foi enforcado sob o nome de Jonathan Swift. Tudo se torna mais claro quando se descobre que George Eliot era uma mulher.

A partir daqui, por conseguinte, O Rei Lear não é uma peça de Shakespeare mas uma crítica satírica de Chaucer, originariamente chamada Ninguém é Perfeito, que proporciona uma pista do homem que matou Marlowe, homem que na época Elizabetiana (ou de Elizabeth Barret Browning) era conhecido por Old Vic. Old Vic tornou-se depois mais célebre como Victor Hugo, o que escreveu O Corcunda de Notre Dame, romance que numerosos peritos literários consideram ser apenas Coriolanus com algumas alterações óbvias. (Convém ler ambas as obras, e depressa).

Resta perguntar se Lewis Carroll não estava a caricaturar toda essa situação quando escreveu Alice no País das Maravilhas. O Coelho Branco seria Shakespeare, o Chapeleiro Louco seria Marlowe, o Rato seria Bacon – ou o Chapeleiro Luco seria Bacon e o Coelho Branco Marlowe – ou Carroll Bacon e o Rato Marlowe – ou Alice seria Shakespeare – ou Bacon – ou Carroll seria o Chapeleiro Louco. É uma pena que Carroll não esteja vivo para pôr tudo em pratos limpos. Ou Bacon. Ou Marlowe. Ou Shakespeare. O importante é que quando alguém se muda deve avisar os correios. A menos que não se ligue nenhuma à posteridade.

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