Diderot, Paradoxo sobre o Actor
Há uma, entre mil circunstâncias, em que a sensibilidade é tão nociva no palco como no mundo. Imagine a amante, que têm uma declaração a fazer um ao outro. Qual deles se sairá melhor? Eu não. Bem me recordo de que só conseguia chegar a tremer ao pé do objecto amado; com o coração a bater e as ideias a ficarem confusas; a minha voz embrulhava-se, estropiava tudo aquilo que dizia; respondia não quando devia responder sim; cometia mil inépcias, faltas de jeito sem fim; era ridículo da cabeça aos pés; tinha consciência disso mas só conseguia ser ainda mais ridículo. Ao passo que um rival alegre, divertido e estouvado, com domínio de si próprio, tirando proveito da sua pessoa, não deixando escapar nenhuma ocasião de elogiar, e elogiar com elegância, ali nas minhas barbas divertia, agradava, era feliz; pedia uma mão que lhe era abandonada, por vezes apoderava-se dela sem pedir consentimento, beijava-a e voltava a beijá-la enquanto eu, metido num canto, a desviar os olhos daquele espectáculo que me irritava, a sufocar suspiros, a dar estalos com os dedos de tanto apertar as mãos, acabrunhado de melancolia ,coberto por um suor frio, não podia mostrar nem ocultar o desgosto. Já se disse como o amor, que tira o juízo a quem o tem, dá-o àqueles que o não têm; de outra forma quer isto dizer que torna uns sensíveis e estúpidos, outros frios e empreendedores.
Há uma, entre mil circunstâncias, em que a sensibilidade é tão nociva no palco como no mundo. Imagine a amante, que têm uma declaração a fazer um ao outro. Qual deles se sairá melhor? Eu não. Bem me recordo de que só conseguia chegar a tremer ao pé do objecto amado; com o coração a bater e as ideias a ficarem confusas; a minha voz embrulhava-se, estropiava tudo aquilo que dizia; respondia não quando devia responder sim; cometia mil inépcias, faltas de jeito sem fim; era ridículo da cabeça aos pés; tinha consciência disso mas só conseguia ser ainda mais ridículo. Ao passo que um rival alegre, divertido e estouvado, com domínio de si próprio, tirando proveito da sua pessoa, não deixando escapar nenhuma ocasião de elogiar, e elogiar com elegância, ali nas minhas barbas divertia, agradava, era feliz; pedia uma mão que lhe era abandonada, por vezes apoderava-se dela sem pedir consentimento, beijava-a e voltava a beijá-la enquanto eu, metido num canto, a desviar os olhos daquele espectáculo que me irritava, a sufocar suspiros, a dar estalos com os dedos de tanto apertar as mãos, acabrunhado de melancolia ,coberto por um suor frio, não podia mostrar nem ocultar o desgosto. Já se disse como o amor, que tira o juízo a quem o tem, dá-o àqueles que o não têm; de outra forma quer isto dizer que torna uns sensíveis e estúpidos, outros frios e empreendedores.
Quando o próprio Denis Diderot, o homem das passions, se queixa disto, que posso eu fazer, comum mortal, contra tal flagelo... ;)
Sem comentários:
Enviar um comentário